Mitos, o que são e por que são?
Mitos são narrativas contadas pelos povos antigos. Os mitos gregos são hoje os mais conhecidos, juntamente com os mitos egípcios (quem já ouviu falar do deus Rhá?), e nórdicos (todos conhecem a lenda de Thor e seu martelo, não é mesmo?), mas estes não são os únicos existentes. Todos os povos antigos desenvolveram suas mitologias (mitologia é o conjunto de mitos existente em cada povo), mas algumas são mais conhecidas que outras. Há também mitologias que sequer são conhecidas.
Várias são as
características que compõem os mitos. Dentre elas, destacamos a antiguidade de
suas histórias, pois todos eles tiveram origem muito, mas muito tempo mesmo
antes da invenção da escrita. A grande maioria surgiu com os primeiros
agrupamentos humanos, antes do surgimento da roda e dos primeiros meios de
transporte. Vale lembrar que o primeiro meio de transporte desenvolvido surgiu
através das navegações, época em que os mitos já existiam.
Por não haver
transporte na época, os diversos povos existentes viviam de maneira isolada uns
dos outros, sem qualquer tipo de troca ou intercâmbio. Por essa razão, cada
povo desenvolveu seus mitos próprios, e só com as primeiras navegações é que os
primeiros intercâmbios entre culturas diferentes se tornaram possíveis, havendo
assim trocas culturais.
Por que os mitos
existiam? Simples: porque na época que surgiram, homens e mulheres já tinham
consigo a necessidade de conhecer suas histórias, conhecer suas origens, suas
identidades, seus destinos. Não havia ainda a ciência que respondesse suas
perguntas, nem mesmo as religiões (isso mesmo, os mitos são anteriores as
religiões) ou a própria filosofia. Havia apenas a necessidade de conhecer. A
única fonte de conhecimento que tinham era a própria imaginação. Detalhe: não
havendo a escrita, também não tinham como registrar a própria história, e povo
sem história é povo sem memória. Como então registrar a própria história se não
podiam escrevê-la? Contando. Isso mesmo, contando suas histórias uns aos
outros.
As narrativas
mitológicas explicavam como o mundo foi feito e porque foi feito, como a ordem
sucedeu a desordem, e como homens e mulheres chegaram a ser o que são.
Explicavam a origem do mundo, a origem de cada povo. Explicavam ainda a origem
do amor e do ódio, da guerra e da paz. Explicavam tudo o que hoje aprendemos com a ajuda dos nossos livros de
história, geografia e ciências. Os mitos eram, portanto, a escola antes da
escola, pois homens e mulheres aprendiam como viver em comunidade ouvindo e
contando mitos.
Os mais novos aprendiam
a história de suas famílias ouvindo os mais velhos contando as sagas vividas
nas batalhas passadas e as conquistas alcançadas. Aprendiam ouvindo sobre os
amores passados, os romances proibidos, as bênçãos e as maldições divinas, e as
aventuras repletas de atos heroicos. Ouviam histórias de seres estranhos,
metade homem e metade bicho, ou ainda de mortais que queriam ser como deuses, e
por isso eram punidos para aprender a viver no lugar correto. Com os mitos,
aprendiam desde cedo a respeitarem os mais velhos (sim, os mais velhos são
fonte de sabedoria e aventura) e também os próprios irmãos. Estranho não?
Acreditem ou não, mas
para homens e mulheres da época, era questão de honra e dignidade tratar bem as
pessoas com quem viviam, pois todos faziam parte de uma mesma história, e cada
um carregava consigo a história de seu povo. Desprezar um membro da comunidade
era o mesmo que desprezar a própria cultura, pois todos tiveram origem das
mesmas façanhas. As histórias narradas pelos mitos podem até não ser reais, mas
todos aprendiam a se respeitarem com seus contos.
Como as histórias eram
contadas e recontadas todos os dias, imaginem só as façanhas que ganhavam todos
os dias. Imaginem vocês que uma mesma história era continuamente recontada ao
longo de muitos, mas muitos anos mesmo, podendo chegar a séculos e quem sabe
até de milênios. Muito tempo, não é mesmo? O mais interessante de tudo é que os
mitos, apesar de suas histórias mirabolantes, aproximavam os membros de cada
comunidade, pois todos se uniam ao redor dos mais velhos para ouvir suas
histórias. Os mais velhos eram vistos sempre como símbolos de autoridade e
respeito, pois teriam muita história para contar.
Eis uma curiosidade bem
interessante que vocês gostarão de saber: os mitos eram histórias contadas
sempre com muita festa, muita música e muita dança. Grandes momentos em família
ou até mesmo em comunidade, onde cada façanha era relembrada com orgulho pelos
mais velhos e comemoradas pelos mais jovens. As crianças se sentiam parte das,
e ouviam tudo com tanto interesse que até pareciam terem estado presentes nos
acontecimentos narrados. Interessante, não?
Com o passar do tempo,
muitos destes mitos ganharam novas narrativas. Isso porque, com o surgimento
das navegações, diferentes povos passaram a ter contato entre si (temos como
exemplo aqui a própria cultura grega, com suas navegações). Com as trocas
comerciais e culturais, também os mitos de cada povo começaram a ser conhecidos
e incorporados por tradições diferentes, fazendo surgir assim novos personagens
e até versões inéditas de velhas histórias já conhecidas. Mais tarde, com o
surgimento da escrita, tais histórias puderam ser registradas, e serviram de
inspiração para inúmeras obras artísticas, tais como: teatro, pintura,
escultura, música e literatura.
Os mitos ainda existem,
mas não da mesma forma que antes. Com o surgimento das ciências e da filosofia,
os mitos antigos foram superados, e o saber sistemático produzido pela
modernidade substituiu o hábito de contar histórias pelos estudos aprofundados.
Com isso, os mitos antigos perderam importância, e hoje passam facilmente
despercebidos no dia a dia. São facilmente associados a mentiras, e poucos são
capazes de ler os mitos com olhares que sejam capazes de ir muito até das
“falsas histórias”. Uma pena, pois deixamos de aprender com eles, deixamos de
aprender os valores que os mitos ensinaram no passado.
As sociedades modernas são sociedades do conhecimento. Graças ao avanço
das ciências, somos hoje capazes de conhecer e explicar com precisão aquilo que
os mitos antigos só viam como bênçãos ou maldições divinas. Contudo, por mais
que os povos antigos eram supersticiosos e “ignorantes” da realidade, sabiam
como ninguém a tratar os mais velhos com respeito e dignidade, sabiam muito bem
como honrar os irmãos de comunidade, e mais ainda os cavaleiros de batalha,
coisas que temos grande dificuldade de compreender na modernidade,
Individualismo e competição imperam sobre nossas vidas.
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