Desigualdade - Conflitos e Compreensões




Em se tratando me desigualdade sociais (se preferir, podemos falar em "desigualdades sociais"), falamos de um fenômeno social tão antigo quanto a humanidade. Não há, em toda a história, um único período em que a desigualdade não esteja presente, realidade inerente as sociedades humanas. Pobreza, miséria, e exclusão social resultam desse cenário.
Para melhor compreender o assunto, iniciemos por uma comparação possível entre distintas etapas da história: a desigualdade está presente em todas as épocas, diferenciando apenas o modo como é vista em cada etapa. Descontentamentos políticos e sociais em torno deste fenômeno são característicos das sociedades modernas; sociedades antigas não a viam como problema, mas como algo natural e que não poderia ser mudado. Condição de nascimento sustentada, em sua grande maioria, por valores religiosos e relatos míticos próprios do mundo antigo.
Embora os valores religiosos da antiguidade fossem os grandes responsáveis pela manutenção da desigualdade como algo natural, foi na própria religiosidade que a busca pela superação das desigualdades encontrou as primeiras inspirações. As motivações iniciais surgiram, inicialmente, nos primórdios do judaísmo, durante a saída dos hebreus dos limites territoriais do Egito, representa na travessia do mar vermelho e na formação de Israel, e no cristianismo primitivo, com a fundação das primeiras comunidades pelos apóstolos Pedro e Paulo. Tempos depois, fortes desejos de libertação e emancipação humana transcendem os limites da religião e alcançam a política.
A partir da modernidade, principalmente após as revoluções político-burguesas dos séculos XVII e VIII,  a superação das desigualdades sociais passa a ser compreendida como condição necessária a formação da cidadania moderna e a fundação do Estado de Direito. "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" são lemas da mais conhecida revolução política do século XVIII, situada exatamente na passagem do mundo moderno para o contemporâneo: a Revolução Francesa.
Nem tudo são flores nesse roteiro. Apesar de liberdade e igualdade serem valores fortemente reconhecido pela burguesia da época, a plena harmonia entre os principais valores do estado burguês é impossível. Em geral, a liberdade não apresenta muitos conflitos, mas o mesmo não pode ser dito da igualdade.
Liberdade religiosa, direito de propriedade, livre concorrência comercial, busca de novos mercados consumidores, necessidades de expansão da produção, busca incessante por matéria prima, e extrema valorização do trabalho como um energia vital para o funcionamento do Estado são considerações essenciais do Estado Burguês dos mundos moderno e contemporâneo. Não há como falar em igualdade onde há concorrência, mas é possível falar em liberdade de produção e comércio. Não é possível falar em sociedades livres da pobreza, mas é possível falar de um Estado como poderes limitados, restrito a manutenção da ordem pública, e não interventor na economia. As peças não se encaixam.
Com o passar do tempo, os valores do liberalismo tendem a ser revistos e aprimorados. Embora o Estado do bem-estar-social tenha marcado presença em alguns países durante certa fase da história, logo foi superado pelo liberalismo revisto e aprimorado, agora conhecido em sua mais nova face: o neoliberalismo. Consiste, basicamente, na desintegração do nacionalismo, na globalização da economia e no fortalecimento do mercado, cada vez mais distante das restrições do Estado (agora enfraquecido pela economia). O patriotismo dá lugar as compras dos cartões de crédito, e o cidadão é logo substituído pelo consumidor. 

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