Mesmice à vista

A Reforma do Ensino Médio via Medida Provisória vem incomodando muita gente. Apesar da novidade, o debate é antigo, e esta não é a primeira reforma a ser realizada desde que o Ensino Médio revelou ser um problema sem solução.
Mal começou, e o governo age rapidamente com reformas em diferentes setores da sociedade. Entre elas, está a reforma do Ensino Médio. De um lado, reforma que sabemos ser necessária, mas, de outro lado, reforma que assustam pela verticalidade e imediatismo em que é implantada.
Todos sabemos que o Ensino Médio não anda bem. Sabemos também que essa não é uma realidade que veio do nada e que surgiu de repente. É consequência de anos (décadas, talvez séculos) de atraso, e não de uma ou outra gestão mal feita. Apesar das velhas e conhecidas promessas, entra governo e sai governo, a coisa só piora.
Problemas de longa data só podem ser resolvidos se tratados a longo prazo. Exigem planejamento, estudos rigorosos, debates contínuos com agentes envolvidos, avaliações corajosas, e revisões permanentes, capazes de identificar de fato onde as intervenções funcionam e onde não funcionam. Exigem investimento, e muito investimento. Ações que só surtirão algum efeito se não forem atingidas por "publicidades eleitoreiras". Desafio que dificilmente será assumido por algum governo, haja vista que um mandato dura apenas quatro anos (talvez três; o último é dedicado as campanhas eleitorais).
Além de grave, o ensino médio atual está muito viciado. Vícios impregnados em todos os agentes nele envolvidos: famílias, estudantes, professores, sistemas de ensino, sociedade em geral. Vícios praticamente impossíveis de serem superados em uma única geração, como é o caso da associação exclusiva do Ensino Médio como preparação para o vestibular.
Exemplo disso é a quase única motivação pelo qual tantas famílias escolhem essa ou aquela escola para matricularem seus filhos no Ensino Médio: o número de aprovados nos vestibulares. O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) bem que poderia ter mudado esse quadro, mas não foi isso que presenciamos. Pelo contrário; o ranking de escolas nos resultados do ENEM só engessou ainda mais a rigidez dos vestibulares.
Gostemos ou não, a Medida Provisória está aí. Como tantas outras iniciativas do passado, essa é só mais uma medida desastrosa de um governo despreparado e desesperado por alcançar uma popularidade inexistente. Mudanças irão sim acontecer, mas com a mesma superficialidade de sempre, haja vista que os vícios não serão superados. Como disse, tais vícios são antigos, resultantes de anos, décadas, e até de séculos, e não se superam assim, de uma hora para outra. 
O academicismo tão criticado continuará existindo, e o analfabetismo funcional rondará nossos estudantes por muito tempo. E nem preciso me esforçar muito para provar o que estou prevendo, pois as evidências favoráveis aos argumentos que aqui exponho foram dadas pelo próprio governo: a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, mais conhecida como "PEC do teto", e o aumento considerável de gastos com publicidade.
Mas, segundo o governo, não devemos nos preocupar, pois tudo irá se resolver. Basta seguir o que ele mesmo nos propõe em um de seus slogans publicitários: "Não fale de crise, trabalhe".

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