Terrorismo político-eleitoral

O sistema eleitoral brasileiro esconde uma grande falácia no discurso do direito de voto. Temos a liberdade de votar em candidatos e partidos de nossas preferências, e não há como negar que esse direito é de grande valia. O problema é que, da mesma forma que posso me identificar com alguma das opções oferecidas pelo pleito, também posso não me identificar com nenhuma delas, mas esse é um direito que o sistema eleitoral não permite. Mesmo que eu não goste de nenhum dos candidatos a disposição para o meu voto, sou obrigado a votar em alguém para que meu voto tenha validade.
E o voto nulo? Bem, confesso que essa foi uma alternativa da qual optei em diversas situações. O mais frustante em adotá-lo é saber que ele não tem validade, e que, ao escolhê-lo, minha voz simplesmente deixa de ser ouvida e passo a pertencer a mais um dentre tantos brasileiros que se calam diante da realidade. Vejo-me então numa encruzilhada: votar nulo porque não consigo encontrar uma boa opção em nenhuma das alternativas oferecidas (e de quebra não ser ouvido porque o voto nulo não tem validade), ou ter que cair no amargo gosto de escolher o menos pior para que meu voto tenha alguma validade.
Acredito que muitos dos que leem essa postagem irão se identificar com a situação que irei descrever agora. Em 2014, tivemos eleições presidenciais. No primeiro turno, um leque bem diversificado de opções, indo desde velhos conhecidos até algumas novidades que surgiram pelo meio do caminho. A hipótese de não identificação com nenhuma das propostas era bem reduzida, haja vista a diversificação apresentada nos debates. O pesadelo, porém, veio no Segundo Turno. Mais uma vez o Brasil voltava ao vício da velha polarização entre dois partidos, e mais uma vez eu me via perante a necessidade de engolir mais um candidato o proposta da qual eu não conseguida digerir.
Na ocasião, a tentação era grande: anular o voto, tal como fiz tantas vezes. A opção pela nulidade do voto não seria motivada pelo desejo de omissão ou indiferença, mas para registar um posicionamento claro e coerente de rejeição pelos candidatos. Poderia fazer isso? Sim, claro; bastaria apertar 00 ou 99 na urna eletrônica. Mas, de que adiantaria, já que, para fins de apuração, meu voto não teria validade. Embora fosse esse meu desejo, um voto nulo nem de longe registraria minha rejeição pelos candidatos, pois o sistema não me dá essa liberdade. Quer queira, quer não, o sistema me obriga a votar em alguém.
Não tinha outra saída, a não ser votar no menos pior. Numa eleição apertada, onde a diferença de votos foi muito pequena, logo imaginei a grande quantidade de brasileiros e brasileiras que votaram em Dilma Roussef (PT) motivados única e exclusivamente pela rejeição a Aécio Neves (PSDB), e o mesmo posso dizer em relação aos eleitores de Aécio Neve. Uma burrice política sem tamanho, mas que, infelizmente, não está ao alcance dos brasileiros evitá-la. Tudo porque temos um sistema medíocre que nos obriga a votar em alguém para que nossos votos valham alguma coisa O resultado não poderia ser outro, a não ser essa esculhambação que estamos assistindo agora.
Apesar disso, tenho que admitir: não me arrependo de ter votado em que votei. Até porque, em virtude dos acontecimentos atuais, não consigo imaginar que a situação estaria melhor caso o resultado tivesse sido diferente. Fora isso, só tenho a lamentar. 

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