Tabus sociais no mundo atual
Não é preciso muito. Uma simples passagem por postagens, comentários e discussões presentes nas redes sociais é suficiente para observar o quanto o Senso Comum ganhou holofotes nos debates político, religioso, moral e econômico. Embora o conhecimento científico seja clamado rotineiramente por esses mesmos debates, apresenta-se, em sua grande maioria, apenas como um suposto argumento para sustentar a própria opinião ou posicionamento. Nota-se, no entanto, que não há uma clareza sobre o que realmente vem a ser o conhecimento científico, desconhecimento este que resulta na banalização da própria ciência.
Nada tenho contra o Senso Comum. Muito pelo contrário. É nele que toda a minha capacidade de conhecimento e reflexão teve origem. Ninguém pode se tornar um bom filósofo, cientista, artista ou religioso sem antes passar pelo Senso Comum. É a porta de entrada para o conhecimento humano; por isso não deve ser desvalorizado. Em muitas ocasiões, para que haja boa aplicação crítica do conhecimento, é preciso retornar ao senso comum. O real problema, acredito, está em sua desvalorização, cujo resultado é o crescimento vertiginoso de suas fragilidades.
A crítica é amplamente necessária. Mas vale dizer: criticar não é ofender, agredir, diminuir, desvalorizar. Mesmo sabendo que muitos entendem a crítica desta forma, o erro não pode ser perpetuado. Criticar é analisar, estudar, refletir, identificar forças e fragilidades, entender mais profundamente, buscar a verdadeira raiz do problema. Defendo, desta forma, que o Senso Comum não deve ser desvalorizado, mas profundamente criticado.
Decifrando o senso comum
Eis aqui um entendimento que deveria ser pauta de todo e qualquer estudo voltado a iniciação científica: o que é Senso Comum? É verdade que nos cursos de nível superior há uma disciplina voltada para este assunto, a Metodologia do Trabalho Científico, mas não vejo com bons olhos iniciar esse estudo somente no Ensino Superior. É muito tarde deixar só para este período. O entendimento tem de começar muito antes; se possível, ainda no Ensino Fundamental.
Senso Comum é um conjunto de conhecimentos, entendimentos, comportamentos e tradições disseminado na sociedade. Conhecimento que não é exclusivo de um indivíduo, mas anterior a ele e adquirido no próprio convívio social. Não há socialização sem interação entre indivíduos, e é no interior da interação social que o Senso Comum se solidifica.
O princípio de sustentação do Senso Comum é simples: quanto mais tempo de vida, mais conhecedor é o indivíduo. Um idoso será sempre mais sábio que um jovem, pois, por ter mais idade, o idoso já vivenciou uma quantidade muito maior de interações sociais que o jovem.
A ideia de que as pessoas mais velhas são mais experientes que as pessoas mais novas é amplamente aceita nesta categoria de conhecimento, pois elas "têm mais experiência de vida". O acúmulo de experiências vividas (vale dizer que todas essas experiências ocorrem no interior de uma sociedade) é suficiente para declarar homens e mulheres possuidores de maior conhecimento e entendimento sobre a realidade.
Por ser essencialmente cumulativo, o Senso Comum tende a ser pouco ou nada refletido. É justamente nesse ponto se encontra a sua maior fragilidade: por ter uma reflexão muito limitada e superficial, algumas vezes até inexistente, nem sempre é capaz de perceber suas contradições, equívocos, e imperfeições. Não se trata de um conhecimento ruim, mas um conhecimento ingênuo, presa fácil da sua própria ingenuidade.
Muitos são os pontos fracos do Senso Comum. Dentre eles, considero os Tabus Sociais como estando entre os mais perigosos.
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