Falando sobre Moral






São comuns, no dia-a-dia, expressões como “você não tem moral para falar assim comigo”, “aquele rapaz não tem moral para chegar naquela garota”, “fiquei sem moral diante daquele comentário”, ou ainda, “estou sem moral!”. Quando ainda criança, você deve ter ouvido com certa frequência a expressão “moral da história”.
Tais expressões apresentam sentidos diversos para a palavra “moral”. Pertencem ao Senso Comum, e distorcem continuamente o real sentido da palavra. Falam de respeito, capacidade, dignidade, prestígio e honra, menos de moral.
A palavra “moral” tem origem no latim “mos”, no singular, e “mores”, no plural. Na língua portuguesa, a melhor tradução que temos para a expressão latina é “costumes”. Em filosofia, moral é o conjunto de valores, normas, condutas, regras e ensinamentos que orientam os indivíduos na sociedade.
Diferentes épocas, lugares e contextos históricos revelam diferentes morais. Estão presentes nas culturas, nos ensinamentos, nos preceitos e nas tradições que regem as diferentes sociedades historicamente constituídas. Em cada lugar e contexto diferente, uma moral diferente.
Em cada sociedade, a moral se apresenta como uma norma de conduta que todos os indivíduos devem seguir. Aparece tanto na forma de códigos legislativos quanto na forma de costumes e tradições que se solidificaram com o tempo. Padrão de conduta que define o certo e o errado, o aceitável e o inaceitável, o belo e o feio.
Agir moralmente significa agir segundo os preceitos da sociedade. Assim, como a sociedade é anterior aos indivíduos a ela pertencente, o mesmo ocorre com a moral. O processo de socialização dos indivíduos em uma sociedade caracteriza-se, em partes, pela interiorização dos valores morais a ela pertencente.
Fato é que todos são agentes morais, pois todos aprendem a viver conforme valores e padrões de conduta vigentes na sociedade que pertencem. Aprendem que, em alguns lugares, certos comportamentos são valorizados, mas em outros devem ser evitados. Um beijo entre dois homens, por exemplo, pode ser visto de diferentes maneiras quando julgados pelos critérios da moral.
Em uma sociedade pertencente a antiguidade clássica, o beijo entre dois homens seria aceito normalmente e sem restrições, por faz parte dos costumes da época. O mesmo não ocorreria em uma sociedade medieval, quando o cristianismo tornara-se referencia. Nos dias atuais, seria facilmente aceito por uns, mas totalmente rejeitado por outros. Isso mostra que, mesmo de caráter normativo, a moral é histórica e pode sofrer variações, mudanças e transformações com o tempo.




Responsabilidade Moral

            Pode-se afirmar sem medo que a moral tem algumas características que lhes são próprias: é particular (própria de cada cultura, época e lugar), é prática (valores que são absorvidos), e normativa (manifesta uma ordem). Embora pareça, para alguns, uma camisa de força, a moral está amplamente atrelada à liberdade.  Fala-se, portanto, de uma responsabilidade moral.
            Em cada lugar, há um costume. Pertencem a este costume crenças, comportamentos, superstições, vocabulários, etc. Quem a ele pertence, conhece as regras do lugar, e, segui-las ou não, é uma questão de escolha. Nada impede que, tendo total consciência da gravidade (ou não) do ato, um indivíduo possa infringir uma norma. Sendo portador de vontade própria (livre arbítrio), ele é livre para escolher entre obedecer ou não.
            Por ser livre e capaz de fazer uma escolha, consciente do que está fazendo, o indivíduo é responsável por seus atos. O mesmo não pode ser dito de um estrangeiro que, recém-chegado em terras estranhas, comete uma “gafe” por ignorar um valor ou comportamento do lugar. Neste caso, não há responsabilidade moral, pois a infração foi cometida por não conhecimento. Como não há conhecimento da norma, também não há liberdade de escolha.
            Uma pessoa adulta apresenta maior responsabilidade moral que uma criança. Aliás, dependendo de qual criança estejamos falando, nem há responsabilidade moral. O adulto é responsável por ter conhecimento das normas, das regas e dos preceitos. Caso venha a agir de modo contrário a sociedade, age por ter escolhido agir assim, mesmo sabendo dos riscos que poderia correr. O mesmo não se pode dizer de uma criança, que não tem maturidade para tal.
            Outra situação comum de quando há e quando não há responsabilidade moral é a comparação entre duas pessoas distintas, uma saudável e consciente, e outra portador de alguma deficiência mental. O primeiro, por ser saudável, apresenta maior grau de consciência, tendo melhor conhecimento de seus atos, enquanto o segundo não pode ser avaliado da mesma forma.
            Em suma, falamos em responsabilidade moral quando há a liberdade de escolha. Um agente é responsável porque escolheu agir assim. Embora a moral seja apresentada como uma norma, o agente moral é livre para segui-la ou não. É livre porque é capaz de pensar, avaliar situações, prever riscos, tomar decisões, assumir responsabilidades. Ao contrário do que alguns possam pensar, o agente moral não é o ser obediente, e sim livre, responsável por seus atos.
            Enfim, agente moral é o indivíduo livre, capaz de fazer escolhas e tomar decisões. Conhecedor da realidade, da norma, dos preceitos e dos costumes, é também livre para escolher entre a obediência ou pela desobediência. O conhecimento da gravidade, dos riscos e dos preços a serem pagos pelo ato escolhido torna o indivíduo responsável por si mesmo, dono de seus atos.

Bibliografia

CORTELLA, M. S.; LA TAILLE, Y. Nos labirintos da moral. 6.ed. Campinas: Papirus 7 mares, 2009.
MO SUNG, J. SILVA, J. C. Conversando sobre Ética e Sociedade. 11.ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
VAZ, H. C. L. Escritos de Filosofia IV. Introdução à Ética Filosófica 1. São Paulo, Loyola, 1999.
VASQUEZ, A. S. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
SAVATER, F. Ética como amor próprio. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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