O Sentido da Vida



Qual é o sentido da vida? Qual a razão de existir? Por que viemos ao mundo? Por que existimos? De onde viemos e para onde vamos?  Perguntas como essas são comuns no cotidiano de muita gente. Diferentes respostas já foram dadas, mas o tema ainda gera polêmicas. Acerta em cheio toda a humanidade, e envolve valores, ideais, projetos de vida, realização e felicidade.
A ausência de um corpo formado de instintos biológicos fixos e rígidos (natureza presente em todo o mundo animal, com exceção do ser humano), tornou homens e mulheres desprovidos de habilidades e comportamentos naturais que garantam a sobrevivência. Enquanto os animais nascem dotados de habilidades necessárias a sobrevivência da espécie (alguns podem andar logo após o parto, outros podem nadar segundos após sair do ovo mesmo não sendo aquáticos, outros possuem a capacidade de camuflagem para proteger-se do perigo logo após o nascimento, etc.), homens e mulheres não possuem qualquer habilidade natural proveniente dos instintos; a única coisa que fazem é chorar.
Se “carência” é um vocabulário que indica “falta” ou “ausência”, a humanidade é, por natureza, carente: carente de instintos, habilidades, comportamentos, linguagens, companhias, enfim, carente de tudo. Frente a tantas ausências, só resta aprender tudo o que preciso para sobreviver: sugar o leite do peito da mãe, reconhecer as pessoas em volta, comer, ir ao banheiro, falar, ouvir, conversar, viver, enfim, aprender a ser. Quanto maior o aprendizado, maior é a percepção que se tem de si próprio como um ser autêntico e existente, carente de sentido concreto para sua existência.
As religiões oferecem vários caminhos que alcançar felicidade e realização plena, e muitas se aproximam da filosofia por indicarem valores comuns (vida examinada, desapego voluntário das coisas materiais, silêncio, contemplação, e autoconhecimento); ensinam também práticas comuns, como solidariedade, compaixão, e cuidado. Tais ensinamentos estão presentes em narrações mitológicas, doutrinas morais, textos sagrados (Bíblia, Alcorão, Livro de Vedas, Suna, Tábuas da Lei, etc.), ritos e modelos de santidade.
 Nem todas as religiões pregam o sentido da vida na adoração de alguma entidade divina. Há religiões monoteístas (creem em um único Deus), religiões politeístas (creem em vários deuses), e religiões ateias (não creem em deus algum). Todas têm em comum a busca pelo Transcendente, e só pode conhecê-lo quem está disposto a vivenciá-lo.
Comparando todas as alternativas possíveis, não há uma receita pronta, uma resposta acabada. Há apenas caminhos, orientações, e referências, mas nada disso tem sentido se não forem trilhados.  Todas as religiões são portadoras da verdade, mas nenhuma possui verdade absoluta, inquestionável. Se assim fosse, não haveriam tantas religiões em meio a tantas culturas, e a crença na posse da verdade absoluta por determinada religião gera intolerâncias, rivalidades, conflitos extremos, e ódios desnecessários.
            Assim como as religiões, muitos filósofos se dedicaram a refletir sobre o tema, e dois filósofos em especial chamam a atenção para reflexões bem provocativas: Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Jean Paul Sartre (1905-1980). O primeiro viveu no século XIX e é conhecido pelo pessimismo de seu pensamento, e o segundo é conhecido por protagonizar uma das escolas filosóficas mais influentes do século XX: o existencialismo.


Para Schopenhauer, a vida humana é um sofrimento constante, e a única certeza presente é a morte. A vontade humana é infinita, pois é próprio do ser humano desejar tudo o tempo todo; cada desejo satisfeito desperta novos desejos. Trata-se de uma vontade insaciável, angustiante, constantemente frustrada pelas limitações da capacidade humana. A não satisfação dos desejos gera dor, angústia e sofrimento.
            Para o filósofo, dor e sofrimento podem ser amenizados de três formas: pela experiência artística (a arte permite ao ser humano escapar das dores e desligar-se da insaciável ambição de tudo desejar, desperta para a contemplação do belo, causa espanto, gera admiração, e orienta a “não-ação; a arte é uma criação contínua e transcendental), pelo olhar fraterno das dores dos outros (o ser humano só é capaz de transcender a própria dor quando, tomado por empatia e compaixão, é capaz de olhar o sofrimento do outro), e pela vivência de uma vida de poucas necessidades, sem desejos de poder ou riquezas, “pobreza voluntária”.  Se o grande mal da humanidade está na vontade, infinita e insaciável, o segredo está, portanto, em abrir mão dos insaciáveis desejos, torná-los conscientes, analisados e refletidos, a fim de alcançar o autocontrole e frustrar-se menos com os desejos não satisfeitos. “A verdadeira liberdade não está em poder fazer tudo o que deseja, mas em não desejar”.  A verdadeira liberdade está em superar a “ditadura do desejo”.


Jean Paul Sartre chama a atenção para uma outra forma de pensar: a relação “ser e nada”. O ser humano é dotado apenas de existência, mas não tem um ser constituído. A existência inicial é comparada ao nada, já que ele nasce ausente de qualquer sentido, habilidade, comportamento ou orientação. Por isso é livre; livre para ser. Diante do nada existencial, é livre para construir o ser. Dotado de uma existência sem sentido, o ser humano é livre para dar a si mesmo sentido a própria existência, e não há qualquer orientação natural ou instintiva que o impeça.


            Mas a liberdade não é total. Embora o ser humano, ao nascer, não esteja pronto ou acabado, o mundo onde ele nasce já pronto, com um contexto já construído, limitador da liberdade. Nasce dentro de determinada família, em determinada classe social, em determinada época e contexto, sujeito a ser continuamente influenciado por diversos valores que são próprios do lugar, da época, do tempo. Condições que limitam as escolhas.
            Por todas essas razões, Sartre afirma que “o homem está eternamente condenado a ser livre”. Condenado, pois não há como fugir; mesmo a escolha por fugir ou negar é um ato de liberdade. Independente das escolhas feitas, homens e mulheres continuam sendo livres, exclusivamente responsáveis por suas escolhas, e fugir a liberdade nada mais é que embebedar-se de ilusão. A eternidade da condenação encontra-se na liberdade contínua, presente em toda a existência até a morte. Independente do ser já construído, da maturidade alcançada, ou da felicidade almejada, a liberdade permanece até que a morte coloque um ponto final.
Afinal qual é o sentido da vida? Há mesmo um sentido? Há mesmo uma resposta? Pelo que se pode perceber, há várias alternativas, vários caminhos, mas nenhuma resposta é definitiva, e não há como repetir o padrão dos antepassados. Respostas a estas perguntas só são possíveis se a procura por elas for uma constante, e é próprio das religiões auxiliar o ser humano nesta procura.


Para refletir
1.      A vida é dotada de valores que a orientam. Quais são os seus valores? Quais são seus ideais?
2.      Você concorda com a afirmação “a liberdade não é fazer tudo o que deseja, mas superar a ditadura do desejo”?

3.      A ditadura do desejo está presente na sociedade atual? Em sua personalidade também? De que forma?

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