Desabafos de um internauta

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Conversar pode ser uma atividade agradável e relaxante. Depende da conversa, claro! Se for para falar de filme, novela, desenhos animados, games ou humor, sem problemas. Mas, se for para falar de conversas mais tensas, que envolvem temas complexos e abrangentes, a coisa muda. Se for política então.... Em épocas com a nossa, o melhor é sair correndo.
Brincadeiras a parte, vamos admitir: não está fácil encarar a realidade. Não que queiramos fugir ou negar; é que a coisa está feia mesmo. Um verdadeiro Kinder Ovo: sempre uma surpresa diferente. Bem que poderiam ser surpresas agradáveis. Convenhamos, estamos todos perdidos. Literalmente.
Mas calma, vamos devagar! Por mais difícil que a coisa esteja, não podemos precipitar. Todo cuidado é pouco. Vivemos em uma democracia, desejo de muitos no passado, realidade para nós no presente. Realidade que hoje temos a liberdade de saboreá-la. Ou será a obrigação de amargá-la?
As pessoas são diferentes e pensam diferente. Não há dois ou mais indivíduos iguais; se existissem, não seriam indivíduos. Opiniões formadas são características de individualidades formadas, e direitos exercidos de expressão de ideias. Se todos podem expressar, há um drama quem nem todos estão prontos para encarar: quem está disposto a ouvir? 
Trata-se de uma questão óbvia: pessoas têm opiniões diferentes, pensam diferente, desejam dizer o que pensam, e mostrar que pensam diferente. Mas, como dizer, se não houver quem escute? Pelo que parece, há mais gente querendo falar do que disposto a escutar. Não parece ser uma tarefa agradável. Ouvir significa dar direto de voz e manifestação a quem não concordamos e não gostamos. Parece um pesadelo, e talvez seja mesmo.  Não estou falando de sonhos e pesadelos, mas de realidade pura. A mais pura e real democracia.
Com o avanço das tecnologias da comunicação e da informação (TICs), o que antes parecia sonho virou realidade. Todos têm condições de opinar, expressar, falar, gritar, verbalizar, palavrear e dirigir bofetões morais em que desejar. Não é preciso muita coisa; basta um perfil virtual para poder opinar e esbravejar o quanto quiser, com direito a (suposto) público e muitas curtidas. Não há direito de fala por meritocracia; é democracia pura. Todos podem falar, escrever, gritar, mas têm que ouvir, assistir, ler. Você consegue imaginar o tamanho da confusão? Um verdadeiro inferno. Como dizia Umberto Eco: "a internet deu voz aos imbecis".
Antes que eu possa ser agredido pelas coisas que escrevi, gostaria de me explicar: quando todos têm direitos a expressar igualmente suas opiniões, todo estão igualmente sujeitos ao preconceito. Todos, sem distinção. Nem eu estou de fora.
Já se acalmou? Podemos conversar? Podemos? Então, vamos lá.
"Pré" é o que vem antes; "conceito" é a compreensão rigorosa e detalhada de uma ideia, valor, juízo. "Conceito" é a compreensão que resulta de um conhecimento profundo, construído sobre bases sólidas e procedimentos rigorosos. Conhecimento que, com muita frequência, aparenta ser inacessível para o senso comum. Aparenta, mas nada que um pouco de ética e bom senso para superar a aparência.
"Pré-conceitos" resultam de análises imediatistas de um problema, e carecem de investigações rigorosas. São necessários para iniciar o conhecimento; na filosofia e nas ciências, são superáveis pela própria potencialidade criativa de conhecimento que oferecem. O problema é quando deixam de ser "pré-conceitos" para se tornarem "preconceitos". Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Opiniões são, em geral, carregadas de "preconceitos". Quantas pessoas têm, de fato, compreensões conceituais (profundas, rigorosas, criticadas e de conjunto) sobre política, economia, futebol, sociedade e religião? Pouquíssimas. Quantas têm opiniões formadas sobre política, economia, futebol, sociedade e religião? Sinceridade? Não sei responder essa pergunta, e acredito que você também não. 
Em geral, opiniões são preconceituosas, ou, pelo menos, tendem a isso. Podem ser interessantes se conscientes da necessidade de refletir, aprender, e desconstruir pré-juízos errôneos e equivocados. São altamente perigosas e destruidoras quando propositalmente ignoradas ou simplesmente não conhecidas. São pejorativas, radicais, fundamentalistas, intolerantes. Fortalecem lacunas (brechas) em seus discursos e impedem conhecimentos mais concretos da realidade.  Elaboram compreensões parciais de problema s(compreensões nem sempre errôneas, mas parciais, incompletas, superficiais)., distorcem e alienam. Impedem a comunicação e afastam corações.
Seria essa uma explicação plausível para o inferno que vivemos atualmente? Será mesmo que estamos prontos para falar de política? Por favor, ouça o meu desabafo; eu também quer falar. Precisamos, com urgência, evoluir do "pré-conceito" para o "conceito", e, assim, evitar tantos "preconceitos".


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