Dilemas de uma Reforma


A notícia sobre a reforma do ensino médio por meio de medida provisória tem incomodado muita gente. Chama a atenção que alguns pontos específicos da medida tem despertado polêmicas nas redes sociais, mas causa estranhamento o fato de que esses pontos representem apenas a ponta do iceberg.
A polêmica envolvendo as disciplinas de filosofia, sociologia, artes e educação física é bem mais antiga que a reforma. Filosofia e sociologia, por exemplo, "tateiam" no escuro desde a publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9394/66). Bem ou mal, a obrigatoriedade destas disciplinas em 2008 apenas esclareceu uma lacuna que a LDB deixou em aberto.
Pertencemos a uma era completamente tecnológica, onde, nem de longe, o emprego de estratégias do século passado é capaz de garantir a eficácia de antes. Princípios e valores devem ser mantidos, mas é preciso utilizar estratégias diferentes. As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) estão a disposição para quem desejar, basta apenas um pouco de criatividade e ousadia para tirar o melhor benefício que elas podem oferecer.
Eliminar filosofia, sociologia, artes e educação física do ensino médio não resolverá o gargalo deste ciclo. No início, pode gerar alguma empolgação entre os alunos pelo fato de ter menos disciplinas a estudar (se eu fosse estudante do ensino médio, também ficaria mais aliviado em ter menos coisas a estudar), mas é apenas uma questão de tempo para que os mesmos problemas do passado venham a se manifestar. Em suma, a situação que já é ruim, pode piorar é muito.
Em uma época em que a educação a distância vem se fortalecendo graças ao emprego de diferentes tecnologias de aprendizagem e comunicação, considero, no mínimo, imbecilidade política insistir numa reforma que se reduz a cortar ou diminuir disciplinas e aumentar o tempo de permanência em sala de aula. Pior ainda é fazer isso por meio de medida provisória.
Não sou a favor da substituição da educação presencial pela educação a distância. Nem de longe cogitaria uma coisa dessas. Mas considero sim a eficácia de integrar as possibilidades destas duas modalidades de ensino, de modo a diminuir o "confinamento obrigatório entre quatro paredes" e flexibilizar verdadeiramente a construção do conhecimento conforme as peculiaridade de cada estudante. Nem seria necessário eliminar ou diminuir disciplinas se as várias possibilidades de integração fossem consideradas.
Ainda há muito o que melhorar, mas não consigo ver com bons olhos uma medida autoritária e antiquada como esta. Mais antiquada ainda, é achar que a redução de algumas disciplinas é o maior de todos os problemas. Sabemos que não é.

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